Enquanto meu chefe não volta…

Quando estava trabalhando nos EUA, vejo como essa experiência foi uma das melhores que já tive na vida! Fiz grandes amigos, tive momentos divertidíssimos, meu relacionamento com Deus cresceu e me sinto mais maduro. A única coisa que eu realmente não gostava era o trabalho em si. Era um trabalho repetitivo, maçante e que não desafiava em nada minha capacidade intelectual, eu não passava de um funcionário de baixo escalão que só realizava o operacional. Sempre tinha que escutar desaforo dos clientes e a política “o cliente está sempre certo” era uma doutrina sagrada na empresa. O ambiente corporativo variava entre pessoas com a minha faixa etária (18-22) até senhores aposentados que queriam fazer alguns dólares a mais no fim do mês. O que marcava a nossa equipe de trabalho era que ninguém gostava muito das responsabilidades e sempre empurrava ao outro aquilo que lhe cabia. Os horários eram malucos e confusos, eu trabalhava muitas vezes 12 horas por dia e raramente chegava em casa antes da 1 da manhã, sendo que o mais normal era entre 3:00 e 4:00. Tinha dias que chegava em casa às 4:00 e já estava escalado para trabalhar às 10:00 do dia seguinte. Como era inverno, houve dias que minhas roupas congelavam enquanto esperava no ponto de ônibus e chovia quase que sempre. Outros dias eu era molhado por aqueles jatos de água automáticos que ficavam no jardim do meu condomínio.

O trabalho não era dos melhores, definitivamente. E tinha dias que eu estava de saco cheio e empurrava com a barriga mesmo. E aí que veio a repreensão amorosa de Deus: uma noite eu estava com meu computador e um dos livros que gosto mais de ler é Colossenses, principalmente a parte que Paulo escreve sobre Jesus como o centro de tudo, de toda a criação, é Nele que tudo existe e Ele é o primeiro em tudo. Eu amo essa passagem, mas não foi nela que meus olhos se repousaram naquela noite. O que me chamou a atenção foi uma passagem que diz assim:

“Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens…” (Co 3.22-23).

Você pode estar pensando “Mas… e daí? O que isso tem a ver? Hoje em dia não existem mais servos!”. Esta passagem foi escrita há quase 2 mil anos e me surpreende como a palavra de Deus é viva e útil não importa a época. Paulo escreve aos servos e pede que eles trabalhem de coração, não trabalhando só quando o chefe está por perto, mas trabalhando e entendendo que tudo que é feito é para Deus. A escravidão é detestável e Paulo pede que os escravos ajam com sinceridade e honestidade, mais tarde afirmando que serão recompensados e estão servindo a Cristo e sendo exemplo para seus senhores. Assim como Jesus foi um servo obediente, devemos seguir Seu exemplo.

No momento que li isso, senti Deus falando comigo que deveria começar a trabalhar de outra maneira. Vieram-me na cabeça todos os empregos que já tive, que em algum momento jogava paciência e quando percebia alguém importante vindo em minha direção, eu rapidamente trocava para a tela do Outlook, abria algum e-mail de trabalho e fazia cara de sério. Lembrei dos momentos que tinha algo para fazer e fiquei adiando até o último momento, mesmo sabendo que eu atrasava o trabalho de outras pessoas. Até já houve vezes que eu simplesmente ficava lendo as notícias. No meu trabalho nos EUA, eu costumava estender meu intervalo de almoço por 5 minutos, às vezes 7 ou 10. Foram todos momentos que eu pensava “Enquanto meu chefe não volta, eu vou…”.

Quando li essa passagem, percebi como Deus quer que façamos nossos trabalhos de maneira honesta e responsável. Não importa muito o que você faz, importa como faz. Você pode ser um grande executivo com conta bancária recheada ou você pode estar preso em um trabalho sem saída, sem futuro, sem perspectiva de carreira, com poucas chances de efetivação e ganhando menos do que aquilo que você precisa (ou do que acha que precisa). Deus ordena que você trabalhe como se trabalhasse diretamente para Ele. Enquanto seu chefe não volta, trabalhe como se ele estivesse do seu lado e avaliando a cada momento.

Jesus é o maior exemplo disso, a Bíblia descreve como Ele sempre existiu como forma de Deus, porém se esvaziou, tomou forma de servo e foi obediente até a cruz. Jesus sabe o que é ser humilhado por outras pessoas. Jesus sabe o que é trabalhar em um trabalho sem futuro e mesmo assim pagava seus impostos. O currículo de Jesus não era nada surpreendente: homem solteiro, 30 anos de idade, operário, mãos calejadas do ofício da carpintaria. Jesus entende completamente quando você reclama que seu trabalho é horrível e Ele pede que você trabalhe direito não importa aonde.

Jesus nunca inventou desculpas para ficar na cama enquanto o despertador tocava, jamais fez o trabalho mal feito só porque não lhe dava perspectiva de carreira, Jesus jamais ficou perdendo tempo jogando campo minado enquanto sua pilha de tarefas a fazer só aumentava. Jesus era responsável. E se você acha que a vida perfeita é sem responsabilidades e trabalho, assim como eu, está na hora de você se arrepender.

Fala sério, não existe ninguém como Jesus.

1 comentário

Arquivado em Diário de Bordo, Pensamentos

Uma resposta para “Enquanto meu chefe não volta…

  1. Fabio Ribeiro

    Leo

    às vezes as pessoas também usam o fato de não haver oportunidades de crescimento na empresa para fazer mal e porcamente aquilo que lhes é esperado. Pude perceber o quão tentador é mentir, trapacear, fazer mal aquilo que devo fazer. Mas não o fiz, e me sinto grato por isso. Trabalho num ambiente estressante, o salário é aquém do pago pelo mercado e não há oportunidades de emprego. Mas todos os dias chego cantando, fazendo o que faço de melhor, e da melhor forma – meu trabalho. Gosto do prazer de ter um trabalho bem feito, concluído em tempo, com idéias novas, mesmo que a empresa não reconheça. Isso me torna mais simples e mais complexo, mas também me faz deitar no travesseiro à noite e dormir em paz, certo de que, quando for a minha vez de sair da empresa, poderei sair com as portas abertas, cheio de colegas contentes com meu trabalho, boas recomendações, boas lembranças e, acima de tudo, um companheirismo que me é caracteristicamente dádiva de Cristo. E, essa marca, meu caro, é a que levo – a de um Cristo dedicado, companheiro, integrado e motivado. Um Cristo Vivo.

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